Poema sem nome [1]

nada pode ser mais silencioso
que o tempo que passa dentro
da gente
sua pedra sobre a lápide
e a sinfonia que vem depois
com o vento
e a lembrança irmã que é
seu som ao tocar as árvores
que fazem os olhos mudar o tempo
e nos faz saltar a luz que perpassava
quieta e fleuma

e o tempo nos agride
e o tempo nos cala
e faz nosso interior
um deus sem seguidores
nas quinas e cantos embolorados
numa órbita apátrida de nós mesmos

e o tempo segue fielmente
calado e sincero
e a vida vai embora
sem som

e o tempo nos cala
e guardamos coisas
dentro da gente
Leuconoe
igual o nosso planeta oculta
o que virá a nos corroer em breve

o tempo e seu silêncio
semelhante às músicas que
ficam na mente
gritam em silêncio
que só é desvendada pelo olho

o tempo que escorre pelo olho
o tempo que escorre pela pele
o amor que escorre na cantiga
cada dia menos cantada
o desespero final que busca
o eco

e sinto dentro de mim
Leuconoe
que não sou filho do tempo
porque o tempo foi um
pai ausente comigo
quando ainda no mais
imerso som que poderia
ser uma vida ou uma
sinfonia
o tempo nos desfez

G.C.

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