11.

O GLORIOSO ESPETÁCULO DO ABSURDO

Calamos diante o absurdo. Sim, nos calamos. E nos tornamos apenas um corpo biológico, uma ampulheta irregular que é incapaz de datar aquilo que para nós – na fuga – é incompreensível. Viramos uma ruína musicada nas canções, somos escaneados pelos poucos fragmentos que passam por nosso filtro, o olho, a pele, o ponto cardinal que tangencia a recusa do absurdo. Sim, nos calamos. E o que mais tangível foi não passou de tão somente aquele nosso vazio que tentamos explicar escrevendo outros absurdos que poucos entenderão.

E o peso permanece, mas a gente se acostuma igual nos acostumamos com tantas coisas. Ah, vai doendo aos poucos, mas a gente aguenta, e caem e não se consomem, não viram outra coisa, o peso permanece igual o plástico que demora mil anos para se decompor. A morte em vida vira mais a uma coisa a se calar, a cegueira vira mais uma coisa a se calar, o fato de se adoecer numa sociedade doente, num sistema doente e mesmo assim você defender os dois dentro de um individualismo que é calado. Aliás, estuchado pelo próprio sistema.

O resultado é vestir a máscara e dizer “sim, está tudo bem” quando não está. E testaremos os meridianos com nossas fugas para que possamos aguentar mais um dia, e essas duas pessoas que vestem essas duas máscaras não se tocam, jamais se tocarão, pois quando isso acontece a loucura chegará com suas razões inexplicáveis, calando mais inquietudes e berrando para todos as verdades que calaremos diante o absurdo.

E surgirá a história renegada, os poucos que mostrarão algo novo e serão alcunhados de doentes dentro de encruzilhadas fedendo a senilidade do claustro cardíaco que é calar, mas calar por um modo de sobrevivência. E no meio de tudo teremos nossas máculas para lamber quando for necessário, esse salseiro de tantas ausências, de máscaras que tornam as ruas vazias, que tornam as vidas e os dias vazios.

A muitos resta o silêncio, é compreensível. Aqui poderia ser um ponto de fuga pra eles igual é pra mim. Um entardecer sem sol, um poente sem nuvens, onde é impossível esconder ou calar os nossos mais tenebrosos fantasmas.

Absurdo-me.

G.C.

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